segunda-feira, maio 10, 2010

As soleiras de um pisar no mar-areia

Estou há mais de quinze dias no Piauí, não exatamente em Teresina, mas na cidade de Luis Correia, bem próximo de uma praia com a qual venho criando relações bem fortes.

Escrever na areia evidencia um corpo vibrante. Como Sofia escreveu semana antes das comunicações da fia: um entre o potencial de mim e certa especificidade de mim. Para Sofia, as soleiras das portas. Para mim, o ir e vir do mar.

Observar o outro escrever, a partir de uma palavra minha escrita na areia, também me faz alterar a percepção.

Que soleiras, então, eu consigo ver/sentir/percepcionar nesse pisar no mar-areia?

Quando vou lá, sinto o vento bater no meu corpo e atiçar minha mente. Estendo a mão na horizontal como se fosse apertar a mão de alguém. O vento bate nela, me diz algo. Começo a girar. Pés firmes para um giro que se encontra e se distancia do vento. Sons que dizem que vc não estás só, Joubert, e, ao mesmo tempo, dizem que estás sozinho, mas não deves recuar. Giro em espiral de sensações. Sinto-me criança, uma criança que fala e escreve palavras sem idioma, mas fala e escreve. Fazer é pensar. Preciso me mover, fisicamente. Criatura que não se move não pensa... Virar bicho.

Pois o estar-junto de outro modo agora tem me feito rememorar muita coisa que vivi em Lisboa, e ainda vivo. Não quero coisas pré-fabricadas, mas sinto que colaborar é também considerar que isso existe, que mesmo num ambiente pensado como colaborativo, a colaboração só vai acontecer quando na sutileza dos pequenos e casuais encontros, o movimento urgir outras relações.

Por isso, acordo cedo, viro bicho um bocadinho, saio com meus caderninhos a ler durante o café da manhã, gravador na mão para me ouvir etc...

Hoje, por exemplo, conversei com Samuel da Guiné Equatorial. Falamos de como precisamos ser a mudança que queremos no mundo. Ele disse que sente a dança muito nela mesma, não consegue permear a dança brasileira. Eu falei de curiosidade no pesquisar juntos. As palavras ficção e fricção nos mobilizaram...aquela foto que tirei e imprimi no jornalzim que fiz ai... Não chegamos a lugar nenhum, mas ambos saimos diferentes...

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Para não esquecer...

Lembrar o não esquecer,
não esquecer o lembrar.
Diariamente, lembro de muitas coisas, coisas que vêm sem pedir permissão, outras que não gosto muito que venham.
Mas nesse ginasticar da lembrança, venho pensando muito no não esquecer.
Não esquecer esse vai-e-vem, esse vem-e-vai, de muitas coisas.
Lembro do to be Joubert e agora tento não esquecer o to be Joubert.
Pois antes do nascer eu já caminhava e ainda caminho, memórias que são memória viva e pulsante.
Quem tem medo?
Eu tenho, assumo.
Já tive mais.
Pois a cada momento de entrega consciente percebo-me no meu caminhar e fico surpreso.
Como?
Somos experencia, mas experiencia como o que fazemos com o que nos acontece.
Nascer é um acontecimento para o mundo, dentro para fora.
Antes também, logo, nascer é a continuidade de um caminhar.
Um to be qualquer coisa que sou eu que está aqui e, ao mesmo tempo, está por vir.
Por que então a mágoa? o rancor? a ferradura? a ancora? o medo? o pecado? o não ser? o cair? a incertaza? o acidente? o erro?
Ainda não sei, eis o de-vir.
Hummm, mais importante talvez do que o de-vir ou dever ser alguma coisa, é o de-ir do caminhar...
Perdi-me nas palavras, sei.
Foi de propósito.
Para não esquecer que.