domingo, maio 25, 2008

Simplicidade de diamante

I.
Acordar cedo, antes das seis da manhã, antes mesmo de tomar um café ou coisa parecida, meio ainda em estado de sono, parece ser a atitude mais sensata em tempos de "desentabilização de expectativas" e "aceleração da rotina". De preferência, com algo pra ler no caminho, com algo pra ouvir nessa trilha. Talvez o usufruto mínimo burguês na busca de outras experiências, mais humanas e menos de consumo. Em cheque, os hábitos que se consolidam sem ao
menos nos darmos conta.

II.
Pois, se o mundo onde vivemos hoje, esse mundo de "homens livres" para fazer o que quiser, nos ilude com falsos caminhos, precisamos de estratégias de subversão para que possamos, por alguns momentos epifânicos, efêmeros e periódicos, perceber aquilo de que somos feitos, ficar de frente daquilo de que somos e estamos sendo feitos, a todo momento.

III.
Sinto-me um homem livre sim. Mas preso também. Nesse paradoxo que não é só meu, como aguçar o olhar para o que nos é singular, para reconhecer nossa força no que ganhamos e no que perdemos. Perdas e ganhos que nem todo mundo precisa saber, talvez ninguém.

IV.
Que as perdas nos fazem ver nossas fragilidades, o que realmente queremos para que estas tais perdas sejam possibilidades. Que os ganhos, na mesma lógica, são relativos e nos fazem ver também nossas potencialidades e para onde elas estão sendo canalizadas, que bem e bens trarão ao mundo e a mim.

V.
Tenho tentado refletir assim. É o processo que implica em reconhecer o que somos capazes, o que não somos capazes e o entre essas duas situações. Um entre que pode ser entendido como coisas que temos de fazer, mesmo com competências questionáveis, mesmo que falte fôlego, porto, cais, rocha.

VI.
É ser um IN-capaz, cuja força está em nós mesmos e, ver isso, pode nos ajudar a ser alguém melhor, bem-sucedido, evolutivamamente. Quero dizer, de permanecer, de continuar, entendendo restrições como possibilidades, e não como provações e limitações, mesmo que, na maioria das vezes, pareça isso, mesmo que tenhamos sido educados para ser assim, até por nós mesmos.

VII.
Que sempre faltará coisas, sempre haverá algo
"ausente que atormenta".

VIII.
E é isso, penso eu, que nos faz sermos humanos.
De ainda acreditarmos que uma vida boa e confortável
é uma vida simples:
simplicidade de diamante.

IX.
Palavras-chave: No hay.