quarta-feira, junho 27, 2007

O poder do adjetivo

Palavra que modifica, que indica qualidade. Adjetivo.
Já ouvi algumas vezes que não sou bonito, mas gostoso.
Que nem sorvete?
Ontem mesmo questionaram a palavra "rejeitado".
Precisava ser justificada.
Lembrei do Gilmar (isso, o de Carvalho) e o mito da rejeição do cearense.
Minha sobrinha, Ana Beatriz, acha que todo mundo é bobo ou jacaré.
Claro, quem discorda dela.
E jacaré é adjetivo? Pra ela sim.
Eu é que não vou duvidar, nem me atrevi.
Ela tem três anos. Eu, vezes 10.
Sabe o que faz.

Adjetivo é ação.
Para tanto, ruminar ou ficar sem.
Ponderar ou deixar vir. Ponderar, certamente, não tem muita graça.
Por exemplo, que dia com razoável luminosidade, ou que casa tão corroída pelo tempo, ou que vestido de corte cuidadoso. Foi-se a poética, que tem a ver com a nossa percepção do mundo.

Adjetivar é isso, denuncia!
Melhor, revela a gente.
Vai, bate e volta.
Pois estamos, sim, naquilo que colocamos o (um) adjetivo.
Somos adjetivo. Deixar ele vir tem seu lado bom.
Sem feitio. Sem querer saber nada.

Ou só com algum.
Bom lembrar do terapêutico nessa minha lorota.
Presença forte dos adjetivos de baixo corpo.
Depreciam. São as faces más de nós mesmos.
Pois poética é também algo ruim.
Agora com mais feitio, mas sem exemplos.
Prefiro um poema com dois adjetivos.
Como esse:

"Um dia me chamaram primitivo:
Eu tive um êxtase.
Igual a quando chamaram Fellini de palhaço:
E Fellini teve um êxtase". (M.B.)

Verbo e substantivo tem sua força, sei.
Mas adjetivo é também um saber que conta.