quinta-feira, abril 19, 2007

Dormindo (com) minhas dores

O que é um homem sem convicções senão um homem em busca de convicções. Me sinto assim pois percebo que muitos outros as têm, pelo menos parecem ter. Eu não. Vivo atrás dessas convicções, não pra tê-las, mas para poder acreditar que elas são viáveis para a minha pessoa, para as minhas angústias. Mesmo assim, hoje me vejo necessitando de certas, algumas ou poucas, convicções, estas para encarar o mundo lá-aí fora.

No entanto, é justamente esse fora que se torna o entrave. Fora sim e também, mas dentro principalmente. Ou seja, aquilo que somos e aquilo temos de ser - parecer e ser, coexistentes.

O que sou: um sonhador perigoso.
O que pareço ser: um realizador destemido.
O que gosto: de tentar/poder ser eu's, mesmo sem saber o que sou realmente.
O que pareço gostar: das pessoas, por acreditar demais nelas me revolvo, me recolho no primeiro sinal de perigo.
O que pretendo: dormir tranquilo com meus sonhos realizados.
O que pareço pretender: dominar o mundo.
Quem eu pareço admirar: meus amigos, inclusive minha mãe.
Quem eu admiro: meus amigos, inclusive minha mãe, em mim.

Iniciei essa confissão dizendo que sou um homem sem convicções, o que realmente não o é, podemos, posso concluir. É que numa tarde, pós dez horas seguidas de sono, me inquieto por querer que umas horinhas destas sequer fossem viáveis para o mundo aqui fora. Não falo de perversões, insisto nas convicções ali sonhadas e desejáveis-ser-viáveis.

Idealista barato, sim o sou. Barato-mediocre, não barato-alguns-tostões. E olha que meu colchão de dormir é o pior que alguém possa imaginar. Já pensou se fosse um dos bons, na medida da minha necessidade de dormidor.

E lá vem o trocadilho - dormidor, dormir as dores. Durmo minhas dores como alguém que idealiza demais e tem de lidar com isso, algo humanamente impossivel, quero dizer, humanamente impossível no tempo hábil que o dito nosso tempo exige. Não quero estar nessa, mesmo estando.

Enquanto isso, Elis Regina, Maria Bethânia, Caio Fernando Abreu e, essencialmente, Manoel de Barros (que descobri recentemente) são minhas atuais boas companhias. Com eles tenho conversado, com eles tenho dormido. Espero dormir o suficiente-necessário-possível. E sobreviver para contar.

Aliás, já estou contando.

PS: "Tenho um senso apurado de irresponsabilidades".