quinta-feira, dezembro 31, 2009

E depois: no estourar da bolha ... você vai descobrir quê.


O ano de 2009 foi vivido e só agora escrito.
Como uma tentativa de documentar, é falha. Parece-me mais um grito que rompe o silêncio que o gestou, geriu. Uma bolha prestes a explodir e que somente agora o faz. E essa bolha não é esse ano bom não escrito mais vivido. Mas sim, essa bolha é a infância também vivida e não escrita que pulsa e permanece. Os porquês eu talvez saiba. Evidenciam-se a cada ano vivido ou mal vivido, escrito ou não escrito.

Fui uma criança inventiva, criativa, sorridente até uns 9 anos, lembro. Depois disso, algo mudou em mim. Fiquei intropectivo. Não sabia muito o porquê na época. Somente percebia o quão as pessoas eram maquiavélicas. Ou então, maleducadas. Ou ainda, previsíveis demais a ponto de aceitar o que lhe é estranho, desconhecendo que a própria natureza humana o é, desconhecimento este que parece ser camuflado ou não admitido quando defronte, ou de frente, ao estranho à flor da pele.

Isso, fui uma criança à flor da pele. Desejo pela vida aflorado, mas já tendo que desenvolver estratégias para se adaptar e continuar de um jeito mais humano. Sinto que depois dos oito ou nove anos, perdi um pouco essa conexão. E me parece que essa sensação de atraso é, de fato, esse perder conexão com algo que nem se sabe muito bem, esse mundo que tentamos viver. Nasci de nove meses e mais alguns dias, parecia que não queria estrear no mundo. Hoje tenho 32 anos e essa sensação é viva, no entanto, transformada no que posso arriscar dizer uma consciência inconsciente de si.

Talvez por isso, o ser nômade que tenho sido, e me tornei, nos últimos três e poucos anos. Novamente a bolha, faz sentido então falar de bolha, ou estufa, ou exílio forjados e necessários.

Isso me fez uma pessoa diferente. Não que não goste de pessoas. Tenho a sorte de ter amigos tão diferentes como eu, que os admiro, eles sabem disso um pouco, pois aprendi a demonstrar mais, apesar de me esconder, muitas vezes, na desculpa de ser alguém que ama sutilmente, ou que, por tanto medo de amar, ou deixar isso claro, foge um pouco, mas nem por isso ama menos. Tanto que aprendi com um amigo-amor a dizer "eu te amo", sem medo do clichê, já que os malfalados clichês talvez seja a forma que a vida nos ajuda a nos conectar com as redundâncias humanas que têm algum porquê menos capitalista, espero, de insistirem.

Que a bolha que estoura, ou a vida ou eu mesmo a faço estourar, esconde outra bolha. Um escritor que gosto mas não li muito, mesmo tendo boa parte de seus livros, usou a analogia do "poço" pra dizer o que digo agora de outro modo, menos nesse vetor de força para baixo e mais como vetores de força que divergem e convergem, enfim, um exercício de uma paráfrase urgente e um plágio vital inevitável:

Primeiro a bolha estoura e você cai. Mas não é ruim cair depois que a bolha estoura assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as bolhas da bolha. O limo das bolhas da ex-bolha. A umidade da nova bolha. A água da segunda bolha. A terra da última e hipotética bolha. O cheiro da primeira bolha. A bolha das bolhas na bolha. Mas não é ruim a gente ir caindo-entrando nas bolhas das bolhas sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada bolha. E não dói. Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no estourar da bolha da bolha da bolha da bolha você vai descobrir quê.